22 de junho de 2015

Lúcifer: Anjo Caído?




"Vivemos numa atmosfera de escuridão e desespero... porque nossos olhos estão voltados e fitos na terra, repleta de manifestações físicas e grosseiramente materiais.
Se, ao invés disso, o homem, prosseguindo na jornada de sua vida, olhasse não para o céu - o que é apenas uma figura de retórica - mas para dentro de si mesmo, e centralizasse seu ponto de observação no homem interior, muito logo escaparia dos rolos compressores da grande serpente da escuridão.”
  (Helena Blavatsky, Revista Lúcifer)

O que posto aqui é um tema difícil, que toca em conceitos, preconceitos, fé, religiões, pensamentos, filosofias, mas não vou deixar de expor o que penso e as perguntas que rondam minha mente.
Longe de ofender essa ou aquela religião, apenas quero exercer meu livre pensamento, construído principalmente através de minhas indagações, observações e críticas pessoais e é por isso que ainda escrevo aqui.

A história de Lúcifer, o Anjo Caído, nunca me convenceu.

Segundo a lenda ou o mito, Lúcifer foi um anjo a quem Deus, o Criador, deu a nobre, especial e singular missão de portar a Luz.
Essa Luz, creio, não é a luz que nossos olhos conhecem e sim um símbolo para o Conhecimento, para a Verdade, para a tomada de consciência das coisas que se encontram ocultas em nós e além de nós.

Como anjo, era perfeito, sábio, íntegro, incorruptível.

Seu nome, Lúcifer, vem do latim: Lucem (genitivo do latim de lux, luz, ou seja, “da luz”) e Ferre (do verbo latino portar, levar), formando a expressão “Portador da Luz”.

Mas Lúcifer, segundo a história ou o mito, possuído de orgulho, almejou o próprio trono de Deus.
E Deus, diante desses fatos, expulsou o anjo do Paraíso, provocando sua famosa queda, não uma queda física, mas espiritual e moral e como uma espécie de vingança, Lúcifer construiu seu próprio reino, o Inferno, tornando-se o adversário número um do Criador, arrastando milhões de almas para o erro, para o engano, a mentira, para o mal, para a escuridão, para longe da Verdade, para longe da Luz, recebendo posteriormente os nomes de Satã, Saitan, Satanás, Diabo, Demônio, tornando-se o Adversário, o Inimigo de Deus e consequentemente, o Inimigo da Humanidade.

Teria construído esse reino particular porque, ao receber de Deus a tocha da Iluminação, julgou-se capaz e merecedor de possuir um reino próprio, mesmo que fosse na oposição.
Um reino constituído de escuridão, principalmente a  espiritual.

Segundo a lenda, teria deixado sua nobre e mais alta missão por orgulho e vaidade.
Dois sentimentos muito humanos....
Lúcifer, na Bíblia, mais precisamente em Isaías, 14:12-15, é chamado de “Estrela da Manhã”, a primeira luz que aparece na escuridão da noite, antes do astro – rei , o Sol, surgir no horizonte e a primeira que surge após o Sol se por.
Sabemos hoje que é o planeta Vênus, também chamado popularmente de Estrela D’Alva,  Estrela da Aurora e em hebraico, Heilel Ben Shachar.
Nessa passagem é supostamente narrada a queda de um anjo, assim como em Ezequiel 28:12-19.
Eis os links para quem se interessar em lê-los na íntegra:

http://www.bibliaonline.com.br/acf/is/14

 http://www.bibliaonline.com.br/acf/ez/28


Mas, para alguns estudiosos, a entidade descrita nas passagens bíblicas não seria um anjo expulso do Céu, mas um grande rei da Babilônia que, por ter sido tirano, ingrato e arrogante, teria caído em desgraça pela vontade de Deus.

Lúcifer, por outro lado, também tem correspondência com Phosphorus, ou Fósforo, deus grego que é retratado com uma tocha na mão e cujo nome também significa...Portador da Luz.
Mas o que prevalece mesmo, o que chama a atenção é que o Anjo Caído tem muitas versões de como ele teria se tornado um anjo orgulhoso, prepotente e vaidoso, ao ponto de “cair ”.

Agora, vamos pensar, ou melhor, vamos indagar algumas coisas.

Deus, que é Onipresente, Onipotente, Onisciente, que sabe tudo o que está no coração dos homens e de Seus Anjos, sempre soube e sempre saberá; que conhece o íntimo de cada criação Sua, iria entregar a Luz, a Sua Luz, a Luz da Verdade, a Tocha simbólica que ilumina tudo o que se encontra nas trevas, nas mãos de um Anjo que logo mostraria sua face de orgulhoso, prepotente, arrogante, invejoso?

Pergunto: o que é perfeito desde sua criação pode se corromper?
Como, onde e quando o que é belo, sábio, puro, íntegro, justo, supremo, como são os anjos, pode se tornar ignorante, terrível e injusto?

Ora, dirão alguns: Deus fez isso para testar o livro arbítrio de Lúcifer!!
Mas, pergunto: Ele entregaria a Luz a alguém que Ele duvidava da índole?
Entregaria a Luz, só para “testá-lo”?

Sobre Lúcifer: criado belo, justo, resplendoroso, sábio, iluminado, de repente é tomado por sentimentos antes em si  inexistentes, tornando-se assim justamente o oposto daquilo que ele era antes?
Ou mesmo que tivesse camuflado sua verdadeira face, o Criador não perceberia?
E como alguém que já conhece a Verdade desde seu nascimento, pode mergulhar na mais completa ignorância, agindo como agiu esse anjo?

Entre nós humanos, há alguém que atingiu a luz e a sabedoria e que, por vontade própria, “resolve” tornar-se igual ou pior ao mais cego e errático entre todos os seres?
Nós humanos não seríamos capazes de tal idiotice, mas Lúcifer, segundo o mito, foi capaz de tal façanha!

Alguns me dirão que o Conhecimento e a Sabedoria, sem o Amor que as fecunda, tornam-se um grande Mal.
Concordo totalmente.
É só olhar muitas das produções da Ciência dos homens, com suas bombas atômicas, seus experimentos científicos cruéis, muitos dos progressos tecnológicos destruidores, onde tudo tende ao favorecimento de poucas nações, nessa Terra já tão desgastada por tantas barbáries e injustiças e onde cresce, a cada dia, a selvageria e a falta de amor pelos outros.

E isso não é Conhecimento!!
Isso é Ciência, aplicada para a destruição de muitos, para a obtenção do poder de alguns.

Coisas feitas por humanos, jamais por anjos de Deus!!


Lúcifer, o encarregado de dissipar as trevas na alma humana, não era humano.
Anjo, era  Sua centelha.
Mito, era  Sua Criação.
Instância psíquica em nós, porta, para nós, Sua Luz.
É uma de Suas Estrelas, como todos os Seus Anjos.

Sei que existem por aí seitas e pessoas que se dizem luciferianas ou luciferianistas, e que muitos deles só repetem o hedonismo, o materialismo e a falta de compaixão pelos outros, tão difundidas pelo sistema vigente, sistema esse que se diz às vezes inclusive cristão, praticando assim o narcisismo e seguindo uma série de dogmas e ritos para se dar bem na vida e obter prazer a qualquer preço.

Obter prazer, nunca a Luz.
Repetem, em nome de Lúcifer, a ignorância.
E não ajudam ninguém! Nem a si mesmos!
Só olham para seus umbigos, sedentos de prazer e procurando apenas satisfação pessoal.
Outros, pregam a abominável “relatividade do Mal”, para assim, poder praticá-lo e justificá-lo.
(Nesse mundo caótico e sem ética, muitas atrocidades físicas, espirituais, psicológicas e filosóficas tem sido cometidas em nome desse Mal Relativo.....)
Não ajudam a iluminar, não contribuem para que o outro e para que ele mesmo evolua como pessoa e espírito; não ajudam a tirar as vendas escuras dos olhos espirituais de quem quer que seja, nem as suas próprias vendas, para que assim possam enxergar e desenvolver seus talentos.

É sempre o mesmíssimo materialismo absurdo e ceifador, esse perpetrado pelos homens, seja em nome de Cristo, de Deus, do Diabo, de Lúcifer ou de qualquer outro ser etéreo, habitante em nós ou nos confins do Desconhecido.

Se há um Diabo mau, reinando no Inferno?
Talvez. E se há, creio ter sido alguém que já foi humano. Talvez nem ele exista fisicamente, mas apenas dentro de nós, em forma de nossas sombras, ódios, ignorância e de nossos medos.
Mas certamente, não é o Portador da Luz.


Então....se Lúcifer existiu, como entidade angelical ou corpórea, ou semi-corpórea, ou se é uma lenda, ou um mito, ou uma representação arquetípica, sendo deste modo um símbolo de algo muito mais profundo em nossa psique, quem foi que derrubou Lúcifer e por quê?
Quem o condenou ao fogo do ódio humano?
A quem interessa demonizar e relacionar ao Mal alguém encarregado de levar a Luz, Sabedoria, Conhecimento, Verdade e consequentemente, Independência e Liberdade, ou melhor dizendo, Libertação aos homens?

Quem ou o quê condenou a Primeira Estrela, a Primeira Luz da Manhã ao ódio de quase toda a humanidade, durante tantos séculos, até hoje?

A quem interessa que a Humanidade continue encerrada na caverna, a caverna da ignorância, não das coisas científicas, não a das matemáticas, mas das espirituais, humanidade que vive assustada com as sombras que são manipuladas e projetadas do lado de fora?
A quem interessa que homens e mulheres desse mundo vivam com medo, escravos de doutrinas e rituais estéreis, subjugados ao terror da ideia de inferno e condenação eternos?
Quem cultiva, durante séculos, senão milênios, a ignorância, o medo, a futilidade, a superficialidade, o materialismo e a falta de liberdade e espiritualidade nas pessoas?
Quem ou o quê vem trazendo mortes, erros, injustiças, medo, ódio, intolerância, terror, materialismo, escuridão, mentiras e fanatismo, desviando as pessoas de seus caminhos de Luz há muitos e muitos milênios?

A Estrela Matutina? Aquele que Porta a Luz? O encarregado de trazer o Conhecimento e tirar das grutas da ignorância e da servidão todos os povos?

A quem tens incomodado tanto, Lúcifer?
Por que, justamente o Anjo que carregava a Luz iria se tornar o “rebelde condenável”, entre tantos outros anjos?
Que perigo há em levar a Luz onde há trevas, aliás, ação que é castigada desde o mito de Prometeu?

Sei que muita gente se assusta com a ideia de que esse anjo, lenda, mito, entidade espiritual ou psíquica, não seja a criatura grotesca e tenebrosa propagada pelas igrejas, impérios e pelos governos através dos tempos, desde a Idade Média e outras Idades das Trevas, inclusive essa na qual vivemos.
Sei que o nome “Lúcifer”, por muito tempo, ainda causará arrepios e terror, naquelas pessoas  apegadas demais a dogmas e conceitos impostos, impedidas de qualquer exercício de livre pensamento e de crítica.

Sei também que os algozes instalados nas instituições seculares, sejam elas políticas, religiosas ou de qualquer outra natureza e que ainda controlam as massas amedrontadas e escravizadas, continuarão a apontar suas lanças afiadas cheias de veneno e de ódio aos céus, a cada manhã e a cada pôr-do-sol  em que a Estrela Matutina brilhar no horizonte, anunciando os vindouros dias de sabedoria, conhecimento, paz e libertação. 

Sei ainda que afirmarão ad eternum todas as suas mentiras, distorções, deturpações e ilusões, para que quaisquer portadores de Luz, para que aqueles que iluminam primeiro dentro, ajudando assim a perfazer o encontro do Grande Caminho de Volta ao Criador, sejam devidamente difamados, condenados e para sempre, exilados.

Encerro esse meu longo texto com outro de Helena Blavatsky, ao explicar o porquê de ter corajosamente escolhido o  nome de  “Lúcifer”,  para sua revista de Teosofia lançada no século XIX:

“...Assim, para uma tentativa de tal natureza, não poderia ser encontrado título melhor do que o escolhido.
"Lúcifer" é a clara estrela da manhã, a precursora do brilho pleno do sol do meio-dia — o Eósforo dos gregos.
Ela brilha timidamente ao alvorecer, ganhando força e ofuscando os olhos depois do pôr-do-sol, como seu irmão "Héspero" — a radiante estrela vespertina ou o planeta Vênus. 

Não há símbolo mais apropriado para o trabalho proposto de lançar um raio de verdade em tudo o que está escondido pela escuridão do preconceito, por incorreta interpretação social ou religiosa e, sobretudo, pelo comportamento cotidiano absurdo que faz com que, uma vez que uma certa ação, coisa ou nome, tenha sido estigmatizado por algum tipo de difamação, mesmo que injustamente, as pessoas ditas respeitáveis virem-lhes as costas indignadas, recusando-se até mesmo a olhar para o fato sob qualquer outro ângulo que não o sancionado pela opinião pública. 

Este esforço para forçar os pusilânimes a olharem a verdade diretamente nos olhos é auxiliado de forma mais eficaz por um título que pertence à categoria dos nomes estigmatizados.
Leitores mais inclinados à pieguice podem argumentar que "Lúcifer" é aceito em todas as igrejas como um dos muitos nomes do Diabo.
Segundo a magnífica ficção de Milton, Lúcifer é Satã, o anjo "rebelde", inimigo de Deus e do homem. 

Entretanto, ao analisarmos sua rebeldia, constatamos que sua natureza não passa de uma afirmação do livre arbítrio e do pensamento independente, como se Lúcifer tivesse nascido no século XIX....”                              
Helena P. Blavatsky
[Revista Lúcifer, Vol. I, no 1, Setembro, 1887]

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