1 de outubro de 2015

A Justiça - PARTE I



Passei muitos anos tentando escrever sobre esse Arcano.
Eu diria que,  desde que estudo Tarot, nunca consegui escrevi uma linha sequer sobre “ A Justiça ”.
Na verdade, sempre tive um conceito interno de justiça diferente do  conceito que ela tem no Direito e na Filosofia, abrangendo os direitos dos cidadãos, a igualdade, a ordem social, a reparação, etc.
Porque para mim a Justiça sempre esteve além do mundo dos homens, isto é,  sempre abarcou também  o Reino Vegetal, Animal, os Seres Animados, Inanimados, as Pedras, as Águas,  as Plantas, enfim, todo o Universo. Pode parecer loucura, não é?
Mas é assim que penso.

Então, tudo o que eu lia sobre a Justiça, a Divina ou a Humana, me deixava atordoada, irritada e confusa, porque não tinha sintonia com meu conceito interior sobre Justiça e isso me aborrecia demais, ainda mais por eu ser uma  Libriana com Ascendente em Libra e ter a Balança da Justiça como signo imperando em minha vida e logo ela, “justo a Justiça” para mim  era “incompreensível”, ou melhor, não compreendia como “deveria ser”.
Então tentei  organizar meus pensamentos e procurar por no papel como sinto “ A Justiça”, a maior de todas as virtudes que um homem pode ter; a maior virtude de um Ser Superior, a maior virtude do Universo; a Rainha de todas as Virtudes, acima até do Amor.

Porque é ela a geradora de todo o BEM do Universo!! E a falta dela, a Injustiça, a raiz de todo o MAL.
Vejam: Não estou falando de Direito, Leis, Legislação, até porque em toda parte há leis extremamente injustas e regras e atitudes justíssimas que talvez jamais se transformem em leis!!

Mas comecemos por Aristóteles. Para ele, “A justiça é a forma perfeita de excelência moral porque ela é a prática efetiva da excelência moral perfeita. Ela é perfeita porque as pessoas que possuem o sentimento de justiça podem praticá-la não somente a si mesmas, como também em relação ao próximo.”
Ainda para Aristóteles, há dois tipos básicos de Justiça: a distributiva e a corretiva.
Nas palavras dele, “ uma das espécies de justiça, em sentido estrito e do que é justo na acepção que lhe corresponde, é a que se manifesta na distribuição de funções elevadas do governo, ou de dinheiro, ou das outras coisas que devem ser divididas entre os cidadãos que compartilham dos benefícios outorgados pela constituição da cidade, pois em tais coisas uma pessoa pode ter participação desigual ou igual à de outra pessoa” e o outro tipo , a corretiva, é “ a que desempenha função corretiva nas relações entre as pessoas. Esta última se subdivide em duas: algumas relações são voluntárias e outras são involuntárias; são voluntárias a venda, a compra, o empréstimo a juros, o penhor, o empréstimo sem juros, o depósito e a locação (estas relações são chamadas voluntárias porque sua origem é voluntária); das involuntárias, algumas são sub-reptícias (como o furto, o adultério, o envenenamento, o lenocínio, o desvio de escravos, o assassino  traiçoeiro, o falso testemunho), e outras são violentas, como o assalto, a prisão, o homicídio, o roubo, a mutilação, a injúria e o ultraje.”
Continuando com Aristóteles:
“O justo nesta acepção é, portanto o proporcional, e o injusto é o que viola a proporcionalidade. Neste último caso, um quinhão se torna muito grande e outro muito pequeno, como realmente acontece na prática, pois a pessoa que age injustamente fica com um quinhão muito grande do que é bom e a pessoa que é tratada injustamente fica com um quinhão muito pequeno. No caso do mal o inverso é verdadeiro, pois o mal maior, já que o mal menor deve ser escolhido em preferência ao maior, e o que é digno de escolha é um bem, e o que é mais digno de escolha é um bem ainda maior.”
Como vimos, parece  existir dois tipos de Justiça principais:
  •   A Justiça como distribuição  correta e equânime de bens, de direitos, agindo assim como  uma antecipação ou prevenção de conflitos, de prejuízos, de danos e sendo uma  geradora do Bem;  aqui há um caráter inicial dos fatos; há decisões para tomar, há um Mal a ser evitado e um Bem a ser realizado.
  •        A Justiça como reparação, isto é, um prejuízo já ocorreu, um dano já se concretizou, uma parte já foi prejudicada e uma autoridade ou pessoa imbuída de poder irá ajuizar essa reparação. Mas aqui, apesar de decisões serem necessárias, o Mal já ocorreu, a Injustiça já se deu, e a Justiça entra como elemento indenizatório, reparatório, compensatório. 
Para  que aconteça o primeiro tipo de Justiça, é preciso levar em conta também as condições particulares de todas as partes envolvidas. E o que seriam essas condições?
Como ser justo na distribuição de bens entre, por exemplo,  duas pessoas ?
Levar em conta seus esforços, suas dedicações, suas necessidades, suas limitações, suas oportunidades concedidas, seus méritos, seus valores?  Apenas um desses elementos? Dois deles? Ou todos?

Imaginemos um reino utópico no qual nenhum ser sofresse injustiça.
Como seria? Todos e tudo teriam exatamente aquilo que mereciam segundo suas ações, suas não - ações, seus valores, suas capacidades, suas necessidades, seus esforços, seus interesses, suas condições, suas limitações e suas oportunidades dadas?

E no segundo tipo de Justiça, a reparadora?
Vamos direto a um exemplo.
Um indivíduo é assaltado e  tem seus bens roubados de forma violenta. A polícia consegue prender o ladrão e este é julgado, condenado, sentenciado a 10 anos de prisão e supomos que a polícia consiga recuperar os bens e devolver ao proprietário.
Pergunto:  houve Justiça?
Que Bem foi gerado? Que virtude apareceu aí?
Que felicidade foi proporcionada?
Nenhuma, não é?
Portanto, creio eu, que diante do Mal já ocorrido, não existe Justiça!!!
Existe sim, uma espécie de Vingança Legalizada, Vingança Legitimada, através da pena, castigo, reparação consoladora, indenização, seja lá o que for, mas jamais, jamais Justiça!!
A vítima, mesmo que tenha  todos os bens de volta, terá traumas, terá uma injustiça contra si sofrida, o assalto em si;  por mais que seja uma pessoa otimista, nunca mais será a mesma, depois de passar por uma violência. O ladrão, por sua vez, será punido por um crime com a privação de sua liberdade e de várias coisas de sua vida e o fato é que ninguém, ninguém mesmo é capaz de afirmar se o crime cometido e a punição aplicada se equilibram na Balança da Justiça do Universo para que isto seja equânime!!!!
Fico muito triste quando vejo os injustiçados gritando por “Justiça”, porque, a meu ver, ela é impossível de acontecer nesses casos.

A reparação de um erro, a tentativa de correção de um mal, de um prejuízo, de um dano, de uma injustiça, jamais deverão levar  o nome de Justiça.
Repito:  O nome é Vingança Legalizada, Vingança Legitimada, Vingança Institucional.
Ou a velha Vingança particular. Só isso.
É necessária? Claro que é necessária!!!
Consola, alivia, traz um pouco de paz para as vítimas, um pouco só; faz o criminoso sofrer  ( às vezes, porque se ele for um psicopata, nunca sofrerá) ; faz a sociedade seguir em frente, um pouco consolada, conformada, mas Justiça??? Nunca!!! Simplesmente porque o tempo não pode voltar atrás.
Virtudes só geram o Bem. Só visam o Bem. Só distribuem o Bem.
E a Justiça, como a maior de todas as Virtudes, está acima de toda e qualquer forma de reparação ou consolação.

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