7 de abril de 2010

A Força, Arcano nº 11


O Arcano nº 11 do Tarot, a Força (em alguns baralhos ele aparece como o nº 8) representa nossa vontade, ação, controle, coragem e sobretudo, nossa força interior.
No tarot de Marselha, que acredito ter a representação mais bonita do Arcano, uma mulher segura a boca de um leão, sem arma alguma, numa atitude de domínio e controle.
Essa mulher traz um acessório curioso, um chapéu em forma de infinito, assim como o Mago, sugerindo ser ela também uma maga, uma guia e alguém dotada de muita sabedoria e luz espiritual.
O leão é a figura de nossos instintos, nossos desejos reprimidos e também de nossa energia adormecida. É a representação das potências de nosso inconsciente.

Então, o que acontece neste Arcano?

Há força controlando força; espírito tomando as rédeas da situação e administrando o que não é racional, o que é primitivo e não trabalhado em nós.
A mulher não pode, no entanto, calar o leão: é preciso alimentá-lo, deixar que ele se manifeste quando for necessário, para que não se torne fera incontrolável e cheia de ódio, capaz de atrocidades para saciar sua fome. Também não pode deixá-lo completamente livre: trata-se de um animal forte e que pode tornar-se perigoso se não for domado.

Porque é assim que ocorre com nosso inconsciente: o que ele contém não pode ser negado, mascarado, ferido, pisoteado ou ignorado, nem muito menos devemos ficar à sua completa disposição. Não há coisa mais estúpida que viver apenas para saciar desejos e vontades, como também passar o tempo inteiro fingindo não ver esses instintos.
E a luta intensa entre a consciência e o inconsciente, entre nosso lado feroz e nossa parte espiritualizada, entre nosso lado animal e nossa maga interior, sem conciliação, é apenas o caminho da loucura, das neuroses mais graves e de um grande número de doenças.

E que tipo de força é essa, perigosa se não for controlada e maravilhosa se trabalhada?
De onde vem, exatamente? Para onde deve ser canalizada?

As pessoas, de um modo geral, tendem a focar seu mundo interno e o externo de maneiras muito diferentes.
Há aquelas pessoas em que na maior parte do tempo estão preocupadas e mantém a atenção naquilo que as cercam: a família, o trabalho, os estudos, os relacionamentos, dinheiro, aparência física, viagens, etc. O que mais desejam é ter filhos felizes, um bom trabalho, amigos maravilhosos, uma bela casa, viagens incríveis, beleza, dinheiro e um marido ou esposa invejáveis.
Se possuem alguma religião ou fé, estas serão empregadas para se conseguir esses desejos ou mantê-los, caso já tenham sido conquistados.
O mundo externo é o mais importante e a força psíquica, a capacidade de resistir, de lutar, de tentar serão usadas nessa direção.
Quando a força que possuem para realizar-se no mundo está bloqueada ou enfraquecida, essas pessoas sentem-se frustradas, ficam deprimidas ou desenvolvem muita agressividade, até mesmo violência.

Há também um outro grupo de pessoas, bem menor, creio eu, formado por aqueles em que o mundo interior é o foco e cuja ocupação se dá com que o que sentem, o que pensam, o que realmente desejam, o que realmente são. Aqui, o indivíduo em si mesmo é o centro de suas preocupações. As atividades do dia a dia, os relacionamentos com outras pessoas, o trabalho, a família, filhos, etc, também são objeto de sua atenção, mas surgem mais como um reflexo, uma consequência de um mundo maior que é o seu universo interior.
Este está em primeiro plano e é bem comum que enfrente crises pessoais e psicológicas com certa frequência, que dúvidas o atormentem e que o mundo lá fora se torne até mesmo desinteressante ou cansativo.
Sua mente é um turbilhão de idéias; sua alma povoada por inúmeros personagens; seu coração cheio de águas profundas e agitadas e sua psique um complexo mais extraordinário que a estrutura de uma galáxia.
Aqui encontram-se os ocultistas, os magos, os filósofos, os sábios e alguns tipos de artistas e líderes espirituais, bem como aqueles dotados de alguma forma de paranormalidade.
O autoconhecimento é sua principal meta.
A força desses indivíduos surge de seu interior e é para ele que é frequentemente direcionada e quando isso se dá de forma incompleta ou fraca, tornam-se deprimidos ou entram em algum processo de doença psíquica.

Como a sociedade privilegia o primeiro grupo de pessoas, aquelas voltadas para o mundo exterior e como também prega que são o modelo ideal de personalidade, as pessoas que se ocupam de seu mundo interno não raro são vistas ou tratadas como excêntricas, rebeldes, diferentes, esquisitas, distantes ou mesmo loucas.
Mas a verdade é que estas duas formas opostas de aplicar a força psíquica que nos move para a vida se alternam em cada indivíduo, prevalecendo na maior parte da história de vida da pessoa uma forma ou a outra.

A primeira coisa a se fazer é identificar de onde vem, como surge e para onde frequentemente sua força está sendo direcionada. Isso faz parte de você, é o seu jeito de lidar com a vida e a sua forma pessoal de buscar a felicidade.
A segunda é reconhecer suas fraquezas, suas dores, suas angústias e também sua raiva, seus desejos, seus impulsos e não se deixar dominar por eles. Há dentro de você uma instância superior capaz de dar vazão a eles na hora certa e no momento certo, para que eles não te destruam ou que enfraqueçam sua capacidade de escolher o que é certo ou errado para sua vida.
E a terceira é o autoconhecimento. De nada adianta tentar criar para si valores que não são seus, só porque a maioria diz que esses valores é que são os corretos. Essa é maneira mais fácil de adoecer e de cavar a própria infelicidade.
E lembre-se que a força, com a coragem de aplicá-la, torna-se Vontade.

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